Enchente
Água chega à escadaria de Iemanjá e assusta moradores
A expectativa é pelo pico de volume e a virada do vento para escoar à Lagoa
Foto: Jô Folha - Moradores esperam pela virada do vento
É no Balneário dos Prazeres, em Pelotas, que é possível ter uma dimensão do comportamento das águas conforme o vento. Com o sudoeste soprando, o volume que deveria estar desaguando no mar pelo Canal da Barra, em Rio Grande, está represado, prejudicando o recuo da Lagoa dos Patos e, consequentemente, do Canal São Gonçalo.
A maioria que vive às margens da orla no Barro Duro já deixou o local. Quem fica teme que a água invada a residência, uma vez que, na madrugada desta segunda-feira (20), chegou até a escadaria da gruta de Iemanjá, local sagrado para fieis da religião afro-brasileira.
A marca d'água - delineada por galhos de árvores e folhagem na rua - foi suficiente para deixar a dona de casa Elizabete Santos Ramos, 60, que mora há dez anos perto da gruta, temerosa. "Na minha casa não entrou água, mas, depois da noite passada, sinceramente, eu fiquei com medo", confessou.
O aposentado Adilson Nunes Gonçalves, 73, e o pedreiro Eleno Pereira, 53, observavam o volume da água na manhã desta segunda-feira, à beira do acesso à praia.
Eles contam que a maioria está em abrigos ou casas de parentes, pois este cenário é inédito. "Para mudar, só quando virar o vento de Sul para nordestão. Mas não pode ser muito forte, tem que ser um noroeste fraco, senão a boca da barra não dá vazão e enche tudo aqui, virando o caos", comentaram.
Os amigos opinam que, com a baixa da Lagoa e do Canal nas últimas horas, quando ocorrer o pico de inundações, ou seja, quando chegar a água do [segundo pico de elevação] Guaíba, no máximo, os níveis vão atingir as marcas já registradas e a população, Defesa Civil, Bombeiros e Prefeitura vão estar preparados.
Uma vez confirmado o pico de inundação, a faixa da margem à esquerda da Iemanjá deverá ser a mais prejudicada, pois a sensação é que a qualquer momento as edificações ali construídas serão levadas. Isso porque o barranco cede a cada movimento onde não há pedras, em uma área que foi considerada condenada pela Prefeitura na última enchente.
À direita da estátua, o cenário é mais tranquilo, mas para o aposentado Everaldo Perez Mota, 66, só seguirá assim se houver manutenção. Pertencente a uma igreja que fica às margens da Lagoa, ele disse que já pediu ajuda ao Poder Público e ao Legislativo, para que, com uma retroescavadeira, pudesse colocar mais pedras no barranco em frente, mas não conseguiu.
"É muito fácil chegar e dizer 'sai da tua casa'. E vai pra onde? Viver de aluguel! Sair do lugar que eu tô morando há anos, quando poderia ter sido feito algo para garantir minha moradia. É absurdo."
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